Na manhã desta terça, 2 de dezembro, o Mais Você abriu com um balde de água fria. Ana Maria Braga estreou o programa ao som de samba e cheiro de peru de Natal, mas não conseguiu engolir o sorriso por muito tempo: três feminicídios escancarados em menos de uma semana a fizeram largar o avental e bater na mesa de centro. Entre entrevistas com passistas e papo sobre decoração de fim de ano, a apresentadora parou tudo para mostrar nomes, fotos e gritar “até quando?” — gesto raro num formato que costuma trazer a alegria das receitas de liquidificador.

O clima mudou quando a tela mostrou a imagem de Tainara Souza Santos, arrastada por um carro na avenida Paulista no último sábado. Ana expôs o rosto do acusado, lembrou que ele foi preso por tentativa de feminicídio e, sem censura, disse o nome completo do agressor. Na sequência, pulou para o incêndio de um imóvel em Recife que matou mãe e quatro filhos — obra do companheiro, segundo investigação. Para completar, trouxe o caso de Adrielle Malaquias, 17 anos, morta com cinco tiros numa rua do Rio. “Parecia cena de bang-bang”, comentou, repetindo que “não dá para achar que é coisa que acontece”.

A reviravolta do programa virou trending topic em minutos. Telespectadores postaram trechos da fala de Ana no TikTok e no Instagram, com hashtags pedindo justiça e compartilhando os telefones de delegacias da mulher. A própria emissora, que costuma manter o tom leve das manhãs, liberou o vídeo completo no YouTube com o título “Ana Maria Braga se revolta ao vivo”. O diferencial foi a naturalidade: sem teleprompter carregado de peso, a apresentadora falou olhando direto para a câmera, como quem conversa com a vizinha. Entre um gole de café e outro, pediu orações, mas também cobrou respostas do sistema de justiça.

Quem assistiu ganhou uma injeção de realidade no meio do entretenimento matinal. O Mais Você não virou telejornal, manteve a música natalina de fundo, mas mostrou que é possível — e necessário — usar a audiência para lembrar nomes que o noticiário esquece em 24 horas. Ana não resolveu os casos, mas garantiu que nenhuma das vítimas virou estatística muda. No fim das contas, o que ficou foi o valor de um programa que, mesmo com batedeiras e decoração, não abriu mão da voz que tem.

Camilo Dantas é redator profissional formado pela USP, com mais de 15 anos em jornalismo digital e 25 anos de experiência em SEO e estratégia de conteúdo. Especialista em arquitetura semântica, otimização para buscadores e preparação de conteúdo para LLMs e IAs, atua como uma das principais referências brasileiras em SEO avançado. Também é formado em Análise de Sistemas com foco em Inteligência Artificial, unindo expertise técnica e editorial para produzir conteúdos de alta precisão, relevância e performance. Contato: redacao@camillodantas.com.br

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