A maior exposição já montada no Brasil sobre o escultor Sergio Camargo (1930-1990) será inaugurada em 10 de dezembro no Foyer da Sala Villa-Lobos, no Teatro Nacional Claudio Santoro, em Brasília. Com entrada gratuita até 6 de março, a mostra “É Pau, É Pedra…” reúne peças raras e inéditas provenientes de colecionadores e instituições de São Paulo, exigindo um protocolo de transporte e conservação que mobiliza restauradores, transportadoras especializadas e equipe de climatização do próprio teatro. A realização é do Metrópoles, que pela primeira vez leva para o Distrito Federal um acervo que abrange desde pequenas esculturas de madeira até obras de grande porte em mármore e bronze, todas datadas entre as décadas de 1960 e 1980.
O processo logístico começa com a visita da restauradora Angela Freitas ao local de origem de cada peça. “Fazemos laudo detalhado de estado de conservação, registramos perdas, restaurações anteriores e marcas de manuseio”, explica. A etapa seguinte é a embalagem sob normas internacionais: caixas de madeira com suspensão por elásticos, espumas de densidade variada e barreiras contra umidade. Após o deslocamento por via terrestre — a maior parte vindo de São Paulo, 1.015 km de Brasília —, as caixas são desembaladas na sala técnica do teatro, onde a equipe repete o laudo para verificar oscilações de temperatura ou trincas provocadas pelo trajeto. Como parte das obras ficará exposta no mezanino, onde o teto é de vidro, a equipe precisará instalar películas de controle térmico e desumidificadores que mantenham 50% de UR, limite máximo indicado para madeiras antigas.
A curadoria optou por distribuir as peças em três núcleos cronológicos: o primeiro reúne trabalhos de 1960-1965, quando Camargo explorava blocos retangulares de madeira com fendas verticais; o segundo cobre o período parisiense (1966-1973), com cilindros de mármore branco que jogam com a luz artificial do foyer; o terceiro apresenta as “Relevos” de 1975-1985, painéis de madeira esculpida que nunca haviam saído do ateliê da família no Rio de Janeiro. No total, 32 obras ocupam 420 m² de área, exigindo pontos de apoio no piso de granito que foram previamente calculados por engenheiros da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). O projeto de iluminação usa 48 spots de LED com 3.000 K, intensidade que conserva a superfície dos materiais orgânicos e elimina raios UV acima de 10 µW/lm.
Depois de três meses de exibição, o ciclo se inverte. Cada escultura passa por nova inspeção, é fotografada em alta resolução para arquivo digital e devolvida ao proprietário com laudo de devolução. O custo total da operação — transporte, seguro, mão de obra técnica e aluguel do espaço — gira em torno de R$ 1,8 milhão, segundo dados obtidos com a produção do Metrópoles. A mostra não gera bilheteria, mas o teatro estimula a circulação de visitantes ao complexo cultural, que em 2024 recebeu 312 mil pessoas em espetáculos pagos.
