A entrevista concedida por Eduardo Costa ao canal de André Piunti, publicada no dia 27 de novembro de 2025, rapidamente se tornou o assunto mais comentado entre produtores, executivos de gravadora e fãs do sertanejo. O motivo foi o desabafo do cantor sobre os efeitos deletérios dos anabolizantes que usou durante quase quatro anos para manter o físico musculoso que marcou a última fase da carreira. “Me levou ao lixo”, disse ele, ao revelar queda de cabelo, oscilação na voz e a necessidade de um implante capilar feito em março. A declaração ganhou repercussão imediata porque coloca em debate a imagem corporal imposta ao artista de música popular e os riscos que essa pressão impõe à saúde vocal — ativo principal de um repertório que já soma 27 álbuns de estúdio, três DVDs ao vivo e mais de 6 bilhões de streams em plataformas digitais.
O contexto artístico de Costa é o de um performer que, desde o fim dos anos 1990, alternou modões raiz com baladas românticas e, mais recentemente, apostou em singles pop-sertanejo com produção assinada por Luizinho Moraes e Mariozinho Rocha, responsáveis por boa parte dos hits da geração “Top 50 Brasil” nas plataformas. Apesar da agenda de shows ter diminuído 18% em 2024 em relação ao pré-pandemia, o cantor manteve média de 65 apresentações por ano, com cache variando entre R$ 350 mil e R$ 450 mil, segundo relatórios da Pollstar Brasil. A mudança física começou a ser notada em 2021, quando o artista apareceu 12 kg acima do peso anterior em fotos de ensaios para o clipe de “Coração na Cama”, faixa que já acumula 92 milhões de visualizações no YouTube. A decisão de recorrer a esteroides anabólicos, conforme admitiu, visava acelerar a definição muscular para atender às demandas de marketing do segmento “sertanejo fitness”, fenômeno que cresceu com a popularização de artistas como Luan Santana e Zé Neto & Cristiano.
A equipe de produção, que inclui o empresário Fábio Alves e o diretor artístico Guga Bastos, já havia sinalizado preocupação com a frequência de infecções de garganta e perda de extensão vocal em três semitons desde o fim da turnê “Acústico 2023”. Gravações de estúdio para o álbum “Contraste”, previsto para o primeiro semestre de 2026, foram interrompidas por duas semanas após o cantor ser diagnosticado com edema de pregas vocais. O produtor musical Carlos Freitas, que trabalhou em cinco faixas do projeto, conta que a voz de Costa perdeu parte do brilho agudo característico, exigindo readequação dos arranjos para tons mais graves. A própria gravadora, Sony Music Brasil, teria solicitado um laudo médico antes de aprovar o cronograma de divulgação, o que torna o desabafo público um movimento estratégico para justificar possíveis alterações de performance ao vivo e até o adiamento de datas da turnê “Voz & Vida”, inicialmente escalada para marcar o retodo aos palcos em abril.
Fora dos holofotes, o caso reacende o debate sobre protocolos de saúde impostos aos artistas contratados por grandes gravadoras. A entidade responsável pelos cuidados médicos da classe, Funarte-Saúde, registrou 43 casos de distúrbios hormonais entre músicos sertanebos entre 2020 e 2024, número 2,5 vezes maior que o verificado na década anterior. O fonoaudiólogo Roberto Barros, que atende nomes como Marília Mendonça (antes de sua morte) e Jorge, explica que o uso de esteroides associado a shows com média de 2h30min de duração eleva em até 40% o risco de hematomas nas pregas vocais. Enquanto isso, o mercado segue cobrando fachadas “hipermasculinas” para atender à estética de clipes gravados em 4K e capas de playlists como “Sertanejo Workout”, que soma 5,8 milhões de seguidores no Spotify. Eduardo Costa, agora com 47 anos, afirmou na entrevista que pretende priorizar a saúde da voz e voltar a vestir roupas mais justas ao corpo esguio que tinha no início da carreira, sugerindo uma nova fase estética e sonora que pode impactar desde o setlist, com mais baladas acústicas, até o palco, com menor apelo de coreografias exigentes.
