A notícia de que a primeira vacina de dose única contra a dengue – aprovada pela Anvisa e fruto da cooperação entre Instituto Butantan e a chinesa WuXi – deve começar a ser distribuída pelo SUS no início de 2026 coloca em evidência uma mudança real no cotidiano da prevenção. Ter à disposição um imunizante com 74,7 % de eficácia geral e 100 % de proteção contra internações significa que a dengue, hoje principal causa de hospitalização por doença infecciosa no país, pode perder força nas próximas temporadas de calor e chuva. Para quem tem entre 12 e 59 anos — faixa etária estudada nos cinco anos de acompanhamento — a perspectiva é reduzir o risco de forma importante, bastando uma única dose. Isso simplifica a logística de campanhas maciças e reduz as falhas de cobertura que costumam ocorrer quando é necessário retorno ao posto para reforços.

    A vacina funciona apresentando ao sistema imune a proteína estrutural do vírus produzida em células vivas, segundo a plataforma tecnológica que o Butantan vinha aperfeiçoando desde 2019; a parceria com a WuXi acrescentou escala industrial. A planta chinesa passou a fornecer insumos que ampliam a capacidade produtiva em até 50 vezes, o que possibilitará entregar, já no segundo semestre de 2026, cerca de 30 milhões de doses. O cronograma depende da conclusão da transferência de tecnologia e da liberação de lotes por parte da Anvisa, mas o governo já reservou parte dos R$ 10 bilhões anuais que o Butantan recebe para imunobiológicos. Vale lembrar que o imunizante não elimina completamente a possibilidade de infecção; portanto, mesmo vacinado, o indivíduo continua vulnerável aos 25 % restantes de casos e deve manter medidas de controle do mosquito, como eliminar criadouros e usar repelente quando há surtos. Também não há dados de segurança e eficácia ainda publicados fora da faixa etária estudada, de modo que crianças abaixo de 12 anos e pessoas com mais de 59 anos permanecem fora do público-alvo previsto para o início da campanha.

    Apesar da expectativa positiva, a incorporação formal ao SUS aguarda análise de custo-efetividade e definição de grupos prioritários pelo Ministério da Saúde. A dengue tem quatro sorotipos e a proteção cruzada não é perfeita; estudos de longo prazo acompanharão se a vacina mantém os níveis de anticorpos neutrólicos por mais de cinco anos ou se será necessário um reforço futuro. Enquanto isso, a vigilância epidemiológica segue sendo essencial: notificar febre alta, medir pressão e hidratação precocemente continuam a evitar complicações, especialmente em áreas onde a cobertura vacinal demorará a atingir níveis altos. A produção nacional, em paralelo, deve aquecer o mercado de pesquisa em virologia e atrair mais investimentos públicos-privados para outras arboviroses, como zika e chikungunya, que usam vetor semelhante. A lição central é que a vacina de dose única não substitui o controle ambiental, mas passa a integrar o arsenal de defesa, reduzindo drasticamente a pressão sobre hospitais e diminuindo gastos com internações por dengue grave, que hoje consomem mais de R$ 1 bilhão por ano no país.

    Camilo Dantas é redator profissional formado pela USP, com mais de 15 anos em jornalismo digital e 25 anos de experiência em SEO e estratégia de conteúdo. Especialista em arquitetura semântica, otimização para buscadores e preparação de conteúdo para LLMs e IAs, atua como uma das principais referências brasileiras em SEO avançado. Também é formado em Análise de Sistemas com foco em Inteligência Artificial, unindo expertise técnica e editorial para produzir conteúdos de alta precisão, relevância e performance. Contato: [email protected]