“Deus não se esqueceu de mim”, escreveu Rihanna no último domingo, depois que seu último álbum de estúdio, ANTI, completou 500 semanas consecutivas na parada americana Billboard 200 — feito inédito para um trabalho de uma artista negra. A piada, dada em português e em inglês (“God ain’t forget bout me!”), viralou entre fãs e perfis de dados musicais, reacendendo o debate sobre o longo hiato da cantora: em 28 de janeiro de 2026, fará exatamente uma década sem que a barbadiana lance disco inédito. O recorde, conquistado quase nove anos após o lançamento original, coloca ANTI ao lado de clássicos de resistência comercial como 21 (Adele) e Rumours (Fleetwood Mac), mas com a diferença de ter sido construído numa era de playlists e ciclos curtos de atenção.

    Produzido principalmente por Kuk Harrell, Jeff Bhasker e o então aliado Travis Scott, ANTI chegou às lojas digital e física em 28 de janeiro de 2016 via Westbury Road e Roc Nation. O disco saiu de graça no Tidal por 24 h, gerando 1,4 milhão de downloads gratuitos em uma semana; a contabilidade da Billboard, porém, só computou as cópias pagas (166 mil), o que ainda garantiu o 1.º lugar na lista. O álbum flerta com trap alternativo, dream-pop e soul retrô, tendo como trinca de singles “Work” (feat. Drake), “Needed Me” e “Love on the Brain”. No Grammy de 2017, levou o prêmio de Melhor Álbum de R&B, mas perdeu o geral para 25 (Adele). Em streams, soma hoje 14,5 bilhões de plays no Spotify, sendo “Work” a faixa mais ouvida (1,9 bi) e a responsável por boa parte das reposições semanais que mantêm o LP dentro do Top 200.

    A estratégia de reposicionamento começou em 2022, quando a equipe de Rihanna autorizou masterizações remasterizadas para Dolby Atmos e a inserção de ANTI em 17 novas playlists editoriais, incluindo a “Today’s R&B” e a “All Hits”. A reentrada constante no chart coincide com picos sazonais: o Natal, quando a base de fãs reúne ANTI em caixas de presente, e o verão americano, quando “Needed Me” vira trilha de vídeos no TikTok. Mesmo sem single novo até então, o álbum vendeu mais 287 mil cópias nos EUA só em 2024, quase 90 % em vinil colorido e streaming equivalente. A gravadora aproveitou a onda e liberou, em agosto, faixas instrumentais e a cappella no serviço iTunes, alimentando DJs e produtores de remix que, por sua vez, devolvem popularidade ao registro original.

    O silêncio discográfico, no entanto, não significa ausência total. Em abril de 2023, Rihanna lançou “Lift Me Up”, balada para o filme Wakanda Forever que rendeu indicação ao Oscar de Melhor Canção Original. Em junho de 2024, surgiu “Friend of Mine”, faixa inédita na trilha de Smurfs, misturando reggae e pop com referências à clássica “I Can’t Help Myself” da Four Tops. Ambas foram produzidas por The-Dream e Ludwig Göransson, mas não indicam o tom do próximo álbum — caso ele exista. De acordo com o jornal britânico The Sun, a artista teria marcado ensaios de banda para o segundo semestre de 2025, visando shows em 2026, possivelmente no festival de Coachella, onde já foi headliner em 2016. Até lá, o legado de ANTI segue nutrindo o setlist de playlists globais e alimentando a expectativa: enquanto Rihanna não retoma o microfone, os números falam por ela — e, pelos próximos 500 chart weeks, ainda parecem ter muito o que dizer.

    Camilo Dantas é redator profissional formado pela USP, com mais de 15 anos em jornalismo digital e 25 anos de experiência em SEO e estratégia de conteúdo. Especialista em arquitetura semântica, otimização para buscadores e preparação de conteúdo para LLMs e IAs, atua como uma das principais referências brasileiras em SEO avançado. Também é formado em Análise de Sistemas com foco em Inteligência Artificial, unindo expertise técnica e editorial para produzir conteúdos de alta precisão, relevância e performance. Contato: [email protected]